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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

1ª SESMARIA DE MATHIAS BARBOZA DA SILVA, HOJE MUNICÍPIO DE MATIAS BARBOSA





Breve Histórico

O município de Matias Barbosa originou-se de “uma sesmaria de uma légua de testada por três de sertão, às margens do rio Paraibuna, entre as roças de Simão Pereira e Antônio de Araújo, concedida a Mathias Barboza da Silva em 1709”. Esta sesmaria é considerada uma das mais antigas da Zona da Mata Mineira e sua criação coincide com o mesmo ano da abertura oficial do Caminho Novo, considerado mais curto, porém menos frequentado por ser muito escabroso e deserto, mas aos poucos o fluxo das tropas foi aumentando. O Registro de Matias Barbosa foi o centro de convergência de toda a atividade do Caminho Novo, era uma barreira onde se pagavam direitos sobre o ouro e os diamantes vindos da região mineradora, consta que enormes quantidades desses preciosos minerais passavam por esse lugar.
Com a morte de Mathias Barboza da Silva, sua sesmaria foi vendida ao Coronel Manuel do Valle Amado, em meados do século XVIII, na Fazenda de Nossa Senhora da Conceição do Registro do Caminho Novo. Neste local foi erigido o Registro de Matias Barbosa que se tornou o mais complexo e exigente da região, uma verdadeira alfândega, que controlava a passagem dos tropeiros, forasteiros e outras pessoas, além da circulação de mercadorias e o pagamento dos diversos impostos à Coroa Portuguesa. O Coronel Manuel do Valle Amado foi também comandante da Patrulha do Caminho Novo da Estrada Real e chefe do Alferes Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes.
A Capela de Nossa Senhora do Registro do Caminho Novo (Patrimônio Histórico Nacional), atualmente Capela do Rosário, tornou-se referência para os viajantes, em seu interior existe um alçapão que dá acesso a um túnel misterioso do qual não se sabe ao certo sua origem. Um pouco fora da rota dos marcos, mas na mesma região do Vale do rio Paraibuna, é possível encontrar a trilha que vinha da Fazenda do Marmelo, em Juiz de Fora, que contornava o Morro do Marmelo e o Morro dos Arrependidos (outro mistério envolvido no Caminho Novo), duas referências naturais.
Com a independência do Brasil, em 1822, o Registro passou a funcionar como Alfândega e, em seu entorno, desenvolveu-se um pequeno arraial. Porém, a ocupação da antiga sesmaria de Mathias Barboza ocorreu a partir de meados do século XIX em diante, com o advento da lavoura cafeeira. Nesta época, chegaram os imigrantes, em grande parte italianos que se somaram aos negros, formando, assim, uma comunidade singular de grande manifestação cultural.
O povoado viu de perto a construção da primeira estrada macadamizada da América do Sul, a União & Indústria, sendo que em Matias Barbosa havia uma Estação onde se trocavam os animais das diligências e carroças. Tais diligências, conhecidas como MAZEPA, conduziam quatorze passageiros, acrescidos do cocheiro e do condutor, e eram puxadas por quatro mulas. De Matias Barbosa, a caminho de Juiz de Fora, atravessava-se uma pequena ponte de madeira sobre o rio Paraibuna, chamada de Zamba.
O povoado cresceu e já era vila quando, no ano de 1875, chegaram os primeiros trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II. Por conseguinte, o núcleo urbano se alterou, passando a se fixar próximo à Estação, local onde, pouco depois, no sentido Juiz de Fora, encontra-se a “Ponte do Arco”, representante de uma engenharia arrojada de outros tempos, com a forma de um arco. Sua edificação em pedra nos permite contemplar a beleza de tal construção em prol do progresso, enquanto na parte inferior passa uma estrada e um riacho, na parte de cima os trilhos cortam a paisagem.
Os atrativos de Matias Barbosa começam já no marco zero deste trecho. Na estrada de terra Juiz de Fora – Caeté – Matias, seguindo pelo acesso à esquerda, encontra-se a Fazenda Belmonte, uma antiga fazenda de café de 1877, que pertenceu ao Conde de Cedofeita. Na área urbana, encontra-se a antiga sede da Fazenda do Monte Alegre, construída entre 1838 e 1840. Atualmente, no entanto, existe apenas parte do que foi a sede da fazenda.
Logo após a Proclamação da República, em 1889, foi construído o cemitério municipal (Tombamento Municipal como Conjunto paisagístico), que data de 1892, onde se pode observar a arte tumular nas lápides centenárias, como o túmulo do Cônego Joaquim Monteiro que, ressaltando-se, foi responsável por mudanças substancias na vila de Mathias Barbosa.
O núcleo histórico urbano é composto pelos prédios da antiga Estação da Estrada União & Indústria, que foi transformada em Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Dom Pedro II e mais tarde Estrada de Ferro Central do Brasil, atual Estação transformou-se em Centro Cultural, a instalação da Biblioteca Municipal, do Departamento de Cultura e Turismo, do Cine-Estação que promove oficinas de cinema e da Corporação Musical Matias Barbosa, onde são ministradas aulas de música.
Ao lado do prédio da Estação pode-se visitar a casa de Artesanato Caminho Novo, defronte se pode apreciar a belíssima fachada quase centenária do Grupo Escolar, hoje denominada Escola Estadual Cônego Joaquim Monteiro, ao lado, o prédio do antigo Laboratório de Biologia Veterinária, primeiro da América do Sul, mas que se encontra atualmente desativado, além do prédio da secção gráfica que por muito tempo produziu o maior jornal de circulação da cidade, o Correio de Mathias.
Na Rua Eloy de Andrade pode-se observar outra construção, a antiga sede da Companhia Mineira de Eletricidade, pertencente à CEMIG, cujos serviços foram primordiais para o desenvolvimento da Vila de Matias Barbosa, pois prestava serviços de transmissão de energia elétrica e telefonia.
Caminhando pelo centro da cidade encontra-se a arquitetura do Paço Municipal, erigido pela construtora Pantaleone Arcuri, que apresenta formas ecléticas e que, em 2009, completa 80 anos, tendo sido já tombado como Patrimônio Municipal. Logo após avista-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construção centenária, com seu teto pintado por Ângelo Biggi, além dos vitrais doados por Bernardo Mascarenhas e sua esposa.
Na Praça Peter Birkeland encontra-se o belíssimo Painel de Azulejos, cujo tema é a evolução dos transportes em Matias Barbosa, mas que, ao mesmo tempo, se mistura com a história da evolução dos transportes no Brasil. A cidade foi protagonista das maiores transformações nos meios de transportes terrestres do Brasil. No painel aparece a representação da Carruagem Mazzepa na Estrada União & Indústria, e a “Maria Fumaça” atravessando o pontilhão de ferro da Estrada de Ferro D. Pedro II, em Matias Barbosa. No painel está representada ainda a passagem por Matias Barbosa de dois sportmen, homens aventureiros que utilizavam automóveis do início do século XX e viajavam pelas trilhas de antigas estradas, um caso real de duas pessoas que saíram de Petrópolis em direção a Juiz de Fora. Por fim, temos no painel a representação dos transportes rodoviários de passageiros na estrada BR-3.
Além disso, no centro da cidade, está aquele que talvez seja o atrativo mais importante de Matias Barbosa, a Capela do Rosário, a antiga Capela de Nossa Senhora da Conceição do Caminho Novo. Construída no século XVIII, a capela está retratada na tela “A Jornada dos Mártires”, de Antônio Parreiras, no Museu Mariano Procópio de Juiz de Fora, que ilustra a passagem dos inconfidentes pela região, rumo ao Rio de Janeiro, onde seriam julgados e condenados.
Em direção a Cotegipe, pela Estrada União & Indústria, no término do trecho do Caminho Novo em Matias Barbosa, encontra-se a Fazenda Soledade, uma das primeiras fazendas a plantar café no Brasil e que pertenceu ao Barão de Bertioga.
Ao longo de 2009 se comemorou os 300 anos do termo de doação da sesmaria ao fidalgo português Mathias Barboza da Silva, ocorrendo a instalação de dois marcos comemorativos, o primeiro, no adro da Capela do Rosário, de uma magnífica réplica de relógio de sol em pedra sabão muito utilizado pelos tropeiros no século XVIII, e outro, de uma réplica de um chafariz em pedra sabão inspirado nas obras do período barroco do grande mestre Aleijadinho.
Destarte, essa pequena cidade do interior de Minas Gerais mostra seus encantos, traduzidos na beleza da paisagem montanhosa associada ao vale do Rio Paraibuna, na originalidade de um povo singular, nas suas manifestações culturais e, principalmente, nas pessoas que nela vivem, tornando esta cidade hospitaleira e apaixonante a todos aqueles que por ela passam, deixando-lhes lembranças que ficarão registradas para sempre na memória.


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